Tudo começou em princípios do ano de 2002!
Cansaço, perda de forças e dormência nos membros inferiores eram os sintomas...
Procurei a minha médica de família, a qual me passou inúmeros exames, mas os resultados eram sempre normais. Para ela, o que eu sentia não passava de uma depressão, pois tinha perdido alguém muito especial em Março desse ano: aquele que considerava o "pilar" e o suporte da casa, aquela pessoa que resolvia todo e qualquer problema, aquele que se preocupava com o bem estar de toda a família, que estava sempre presente, que se preocupava em dar uma educação especial aos filhos... Esse alguém tem um nome - Pai.
Com o passar do tempo, os sintomas agravavam-se até que, em meados do mesmo ano, quando via uma reportagem num dos canais televisivos, algo em mim se desmoronou. Essa reportagem falava sobre o caso de inúmeras pessoas a quem tinha sido diagnosticada Esclerose Múltipla.
Fiquei extremamente sensibilizada, pois identificava-me com todos aqueles casos. Tudo o que diziam sentir também eu sentia!
Isso fez com que procurasse mais uma vez a médica de família, para lhe explicar o que me estava a acontecer. Para além de me ignorar, mandou-me para uma consulta de cirurgia vascular no Hospital da Cruz Vermelha.
Depois de ter sido vista pelo médico desse hospital, e de lhe contar as minhas suspeitas sobre o problema da Esclerose Múltipla, o médico escreveu um relatório para eu entregar à médica de família. Nele estava simplesmente escrito que estava tudo normal, mas propunha que fizesse uma Ressonância Magnética, pois tinha-lhe falado sobre a Esclerose Múltipla.
Quando finalmente parecia que alguém começava a interessar-se com o meu estado de saúde, tudo se perdeu outra vez...
Imaginem que a médica de família, depois de ler o relatório do colega, rasgou-o e "arquivou-o" no lixo, respondendo-me que "quem precisava de uma Ressonância Magnética era ele!".
Passou-me uns comprimidos (anti-depressivos) para tomar à noite, a fim de dormir e descansar melhor, e umas pomadas para esfregar nas pernas. Continuava a afirmar-me que aquilo não passava de uma depressão.
Fui para casa e andei um ano com essa convicção...
Em Setembro de 2003, optei por ir a uma urgência no Hospital de S. José devido a um agravamento súbito. Não conseguia aguentar-me em pé!
Felizmente, fui assistida por uma médica de Neurologia.
Depois de lhe contar todo o meu historial e as minhas suspeitas sobre a Esclerose Múltipla, propôs-me ficar internada no hospital onde nessa altura dava consultas (Hospital dos Capuchos), para que fizesse todos os exames necessários.
Foi nesse hospital que passei as três semanas seguintes: fiz inúmeras análises, exames, potenciais evocados visuais, ressonância magnética e uma punção lombar, de onde foi recolhido líquido da espinal medula para ser analisado.
No mês de Outubro de 2003, iniciava-se assim uma nova etapa da minha vida: saber viver com Esclerose Múltipla. Aquela doença que tinha visto na reportagem afinal também tinha sido diagnosticada em mim... Fiquei assustada e em pânico! Apartir daquele momento, toda a minha atenção se virou exclusivamente para conhecer essa doença.
Do mesmo modo, também tive o cuidado de marcar uma consulta com a médica de família para que também ela pudesse ver esses exames e para que tomasse conhecimento da real situação, de modo a que alargasse os seus conhecimentos, tendo em conta não só a medicina como também os doentes.
Depois destes anos de diagnóstico, aprofundei os meus conhecimentos sobre a Esclerose Múltipla, mas as dificuldades em relação à sua aceitação ainda são muitas.
Quando contactei as pessoas que achava serem importantes na minha vida e lhes disse que, possivelmente, tinha Esclerose Múltipla, começaram a afastar-se. Quando tive a certeza da doença então desapareceram totalmente, virando-me as costas sem qualquer explicação!
Na minha opinião, isto deve-se à ignorância ou ao próprio desconhecimento da doença. Por isso, só tenho duas coisas a dizer: a Esclerose Múltipla não é uma doença mental, nem é contagiosa!!
A Esclerose Múltipla é uma doença crónica, que afecta o Sistema Nervoso Central, o qual é composto pelo cérebro e a espinal medula.
Actua como um quadro de distribuição, enviando mensagens eléctricas, através dos nervos, para diversas partes do corpo.
Estas mensagens controlam todos os movimentos conscientes do nosso corpo, assim como as várias modalidades sensitivas.
Os sintomas aparecem devido à interrupção da condução dos impulsos nervosos (lesões), entre o Sistema Nervoso Central e o resto do corpo.
A maioria das fibras nervosas normais são revestidas pela Mielina, uma substância constituída por proteínas e gorduras, que ajuda a condução de mensagens.
Na Esclerose Múltipla, a Mielina rompe-se e é substituída por tecido cicatricial (esclerose), fazendo com que a mensagem se desloque lentamente.
Quanto maior for a lesão, maior será a probabilidade de ocorrência dos sintomas.
A maioria dos casos surgem entre os 20 e os 40 anos de idade.
As causas são ainda desconhecidas e não é hereditário.
Estima-se que em Portugal, cerca de 5 mil pessoas sofram desta patologia.
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No meio de muitos momentos de tristeza e de revolta, ainda acho que a vida é muito injusta e deu-me algo que não merecia. Mas, se fui "escolhida" para ser portadora de Esclerose Múltipla, é porque sou uma pessoa forte que vai ser capaz de ultrapassar isto e vai saber viver com a diferença!
Ainda acredito que a vida não traz só más notícias... Um dia ainda vai surgir uma luz, uma descoberta para fazer parar a evolução da Esclerose Múltipla.