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domingo, 4 de setembro de 2011

Esclerose Múltipla: testemunho sobre uma doença imprevisível e incompreendida





Tudo começou em princípios do ano de 2002!
Cansaço, perda de forças e dormência nos membros inferiores eram os sintomas...

Procurei a minha médica de família, a qual me passou inúmeros exames, mas os resultados eram sempre normais. Para ela, o que eu sentia não passava de uma depressão, pois tinha perdido alguém muito especial em Março desse ano: aquele que considerava o "pilar" e o suporte da casa, aquela pessoa que resolvia todo e qualquer problema, aquele que se preocupava com o bem estar de toda a família, que estava sempre presente, que se preocupava em dar uma educação especial aos filhos... Esse alguém tem um nome - Pai.

Com o passar do tempo, os sintomas agravavam-se até que, em meados do mesmo ano, quando via uma reportagem num dos canais televisivos, algo em mim se desmoronou. Essa reportagem falava sobre o caso de inúmeras pessoas a quem tinha sido diagnosticada Esclerose Múltipla.
Fiquei extremamente sensibilizada, pois identificava-me com todos aqueles casos. Tudo o que diziam sentir também eu sentia!

Isso fez com que procurasse mais uma vez a médica de família, para lhe explicar o que me estava a acontecer. Para além de me ignorar, mandou-me para uma consulta de cirurgia vascular no Hospital da Cruz Vermelha.
Depois de ter sido vista pelo médico desse hospital, e de lhe contar as minhas suspeitas sobre o problema da Esclerose Múltipla, o médico escreveu um relatório para eu entregar à médica de família. Nele estava simplesmente escrito que estava tudo normal, mas propunha que fizesse uma Ressonância Magnética, pois tinha-lhe falado sobre a Esclerose Múltipla.

Quando finalmente parecia que alguém começava a interessar-se com o meu estado de saúde, tudo se perdeu outra vez...
Imaginem que a médica de família, depois de ler o relatório do colega, rasgou-o e "arquivou-o" no lixo, respondendo-me que "quem precisava de uma Ressonância Magnética era ele!".
Passou-me uns comprimidos (anti-depressivos) para tomar à noite, a fim de dormir e descansar melhor, e umas pomadas para esfregar nas pernas. Continuava a afirmar-me que aquilo não passava de uma depressão.

Fui para casa e andei um ano com essa convicção...




Em Setembro de 2003, optei por ir a uma urgência no Hospital de S. José devido a um agravamento súbito. Não conseguia aguentar-me em pé!

Felizmente, fui assistida por uma médica de Neurologia.
Depois de lhe contar todo o meu historial e as minhas suspeitas sobre a Esclerose Múltipla, propôs-me ficar internada no hospital onde nessa altura dava consultas (Hospital dos Capuchos), para que fizesse todos os exames necessários.

Foi nesse hospital que passei as três semanas seguintes: fiz inúmeras análises, exames, potenciais evocados visuais, ressonância magnética e uma punção lombar, de onde foi recolhido líquido da espinal medula para ser analisado.

No mês de Outubro de 2003, iniciava-se assim uma nova etapa da minha vida: saber viver com Esclerose Múltipla. Aquela doença que tinha visto na reportagem afinal também tinha sido diagnosticada em mim... Fiquei assustada e em pânico! Apartir daquele momento, toda a minha atenção se virou exclusivamente para conhecer essa doença.

Do mesmo modo, também tive o cuidado de marcar uma consulta com a médica de família para que também ela pudesse ver esses exames e para que tomasse conhecimento da real situação, de modo a que alargasse os seus conhecimentos, tendo em conta não só a medicina como também os doentes.

Depois destes anos de diagnóstico, aprofundei os meus conhecimentos sobre a Esclerose Múltipla, mas as dificuldades em relação à sua aceitação ainda são muitas.
Quando contactei as pessoas que achava serem importantes na minha vida e lhes disse que, possivelmente, tinha Esclerose Múltipla, começaram a afastar-se. Quando tive a certeza da doença então desapareceram totalmente, virando-me as costas sem qualquer explicação!
Na minha opinião, isto deve-se à ignorância ou ao próprio desconhecimento da doença. Por isso, só tenho duas coisas a dizer: a Esclerose Múltipla não é uma doença mental, nem é contagiosa!!



A Esclerose Múltipla é uma doença crónica, que afecta o Sistema Nervoso Central, o qual é composto pelo cérebro e a espinal medula.
Actua como um quadro de distribuição, enviando mensagens eléctricas, através dos nervos, para diversas partes do corpo.
Estas mensagens controlam todos os movimentos conscientes do nosso corpo, assim como as várias modalidades sensitivas.
Os sintomas aparecem devido à interrupção da condução dos impulsos nervosos (lesões), entre o Sistema Nervoso Central e o resto do corpo.
A maioria das fibras nervosas normais são revestidas pela Mielina, uma substância constituída por proteínas e gorduras, que ajuda a condução de mensagens.
Na Esclerose Múltipla, a Mielina rompe-se e é substituída por tecido cicatricial (esclerose), fazendo com que a mensagem se desloque lentamente.
Quanto maior for a lesão, maior será a probabilidade de ocorrência dos sintomas.
A maioria dos casos surgem entre os 20 e os 40 anos de idade.
As causas são ainda desconhecidas e não é hereditário.
Estima-se que em Portugal, cerca de 5 mil pessoas sofram desta patologia.



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No meio de muitos momentos de tristeza e de revolta, ainda acho que a vida é muito injusta e deu-me algo que não merecia. Mas, se fui "escolhida" para ser portadora de Esclerose Múltipla, é porque sou uma pessoa forte que vai ser capaz de ultrapassar isto e vai saber viver com a diferença!
Ainda acredito que a vida não traz só más notícias... Um dia ainda vai surgir uma luz, uma descoberta para fazer parar a evolução da Esclerose Múltipla.

10 comentários:

MARIA BERNARDO disse...

Querida Amiga Teresa
Adorei o Testemunho sobre a "Esclerose Múltipla", conhecedora desta doença,que por vezes é dificil ser diagnosticada, tenho 2 Amigas que são portadoras da doença, as admiro profundamente, são mulheres de luta, que não baixaram os braços. Obrigada Amiga Teresa. Beijinho com Carinho.

♥ αŋgєļ тєrєѕα ♥ disse...

Obrigada amiga pela visita e pelo comentário.
Adoro a tua amizade!

Beijos em teu doce coração ♥

Anónimo disse...

Olá minha amiga!
Gostei muito de que li!
Continua asim cheia de coragem e muita esperança!Beijinhos da tua amiga Olinda

Maria Fonseca disse...

Minha querida: A pessoa que escreveu este testemunho não deve ser a mesma que "arrastei" há uns anos atrás para uma médica!Cada vez acredito mais quando dizem que "o que não nos mata, fortalece-nos!"És a prova disso. Que essa força te acompanhe sempre! Beijo grande

♥ αŋgєļ тєrєѕα ♥ disse...

Obrigada Olindinha pela visita e pelo comentário.
És uma amiga que está e estará sempre nos meus pensamentos.
Obrigada sempre pela força!

Adoro-te! Beijos graaandesssss :)

♥ αŋgєļ тєrєѕα ♥ disse...

Obrigada querida Aurora pela visita e pelo comentário.
É verdade, ao fim destes anos todos, apesar de todos os momentos difíceis, passei a conhecer outra "Teresa" que não imaginava que existia...

Obrigada pelos momentos bons que tive o privilégio de passar quando trabalhámos juntas! Recordo-me deles com muita saudade e com um grande sorriso!
És e sempre serás uma pessoa 5 ☆´s! Adoro-te!

Beijinhos e que sejas sempre feliz!

Dina Visitação disse...

Amiga Dina Visitação escreveu no facebook:

" Teresa, tb passei por caminhos idênticos ao teu. Acabei por recorrer a um neurologista particular em 2001, depois de 2 anos de queixas de cansaço, mãos dormentes, vertigens, dificuldade em andar mais de 10/20 minutos. O teu testemunho é muito bom e um exemplo de que os médicos de família deveriam ter mais informações sobre a doença. Bjo grande e força para a luta!! "

♥ αŋgєļ тєrєѕα ♥ disse...

Obrigada amiga Dina pela visita e pelo comentário que deixaste no meu facebook.
É verdade, os médicos de família nem sempre sabem orientar-nos da melhor maneira...

Beijinho amiga e que tb tu tenhas mta força!

Silvia Carmo disse...

Parabéns pela coragem, está lindo!
Mas há tantas coisas com as quais não posso concordar. Não com o que escreveste, mas com as "ideias enraizadas" e ainda actuais.

Nasci em 1977 tal como tu e, mal vivi a infância, fui logo posta de parte, como contas... ainda com 12 anos, ainda criança, em 1989. Primeiro foi a ponta do dedo indicador dormente, depois o dedo inteiro, de seguida a mão, o braço, a parte esquerda inteira do meu corpo e, quando comecei a ver duas imagens e nas aulas de Educação Física ao invés de segurar as bolas que me passavam levar com ela em cima, procurei um médico que quando me examinou chegou à conclusão que "Tens treze anos, isso com a idade passa!"...

E somente com 16 anos alguém se resolveu a achar que, se eu fizesse todos esses exames de que falas, talvez se concluísse que não eram ideias da minha cabeça e existia uma razão para tudo o que eu dizia sentir, pois na verdade eu era mesmo portadora de uma doença (ou patologia, mais correctamente falando) crónica e altamente incapacitante, como é a Esclerose Múltipla.
Foi isso que aconteceu e, tal como a minha infância foi interrompida antes de acabar, também nunca tive adolescência, pelo menos que se diga ser "normal" e posta de parte por colegas, professores, vizinhos, familiares, ...

No fundo, acabei de confirmar que quase tudo o que contas está correcto. Mas, quando em Setembro de 1993 saí dos Hospitais da Universidade de Coimbra com esse diagnóstico, tomei conhecimento que naquele momento, há 18 anos atrás, existiam cerca de 5000 casos em Portugal. E agora, depois de tanto ano e de tantos e tantos novos casos, continuamos a ser 5000casos? Como pode ser, se a E.M. não é uma doença fatal e não tem cura? Morreram quase todos para dar lugar a outros? Descobriu-se a cura para uns e outros não? E a idade para ter Esclerose Múltipla é entre os 20 e os 40 anos???? Isso quer dizer que era mesmo "da idade" e eu sou saudável? Antes fosse...!

No entanto, depois de 22 anos de surtos, tenho uma vida completamente autónoma e tenho uma vida, dentro do possível, super saudável! Sentimo-nos "doentes" quando estamos com um surto e eu já não tenho surtos desde Janeiro de 2009!
Portanto, desejo a ti e a todos quantos lerem estas palavras muita força, muita coragem e, principalmente, muita vontade de não ser "doente"!!

Um enorme bem-haja, beijinhos;))

♥ αŋgєļ тєrєѕα ♥ disse...

Obrigada amiga pela visita e pelo teu comentário.
Continua a ser a mulher que és! Precisamos de testemunhos positivos como o teu, apesar de saber que a "esclerose múltipla" não "ataca" os "escolhidos" da mesma maneira...

Mta força e sê feliz sempre! Beijos